terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manuel Bandeira, modernista brasileiro

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu na nordestina cidade brasileira do Recife a 19 de Abril de 1886. Em 1917 publicou o seu primeiro livro de poemas, A Cinza das Horas, com uma tiragem de apenas 200 exemplares, custeados pelo autor, um panorama que se viria a repetir ainda durante anos...
Atacado pela tuberculose em 1904, chega a procurar tratamento na Suíça e regressa a casa (a sua "casa" no Brasil repartiu-se por diversos estados e diferentes cidades) com o início da Grande Guerra, em 1914; a sua poesia fica, no entanto, eivada da influência terrível da doença mortal: basicamente sempre com um fundo positivo, optimista, engraçado até, torna-se por vezes não só triste mas sombria; regra geral, porém, ganha um misto que só lhe acresce o interesse.
Em 1918, o seu livro Carnaval desperta o interesse dos paulistanos iniciadores da corrente Modernista. A partir de então, os laços de amizade de Manuel Bandeira vão abarcando gente como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Jaime Ovalle, Dante Milano e Carlos Drummond de Andrade, entre tantos e, chegado seu quinquagésimo aniversário, o poeta é celebradíssimo e convidado para inúmeros cargos, sendo inclusive eleito, em 1940, para a Academia Brasileira de Letras.
Igualmente ligado à arquitectura, à pintura, à música e à tradução, encontra a morte no Hospital Samaritano, em Botafogo, Rio de Janeiro, a 13 de Outubro de 1968, pelas 12 horas e 50 minutos, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, ao cemitério de São João Batista.
Deixa-nos uma extensa obra de pendor fundamentalmente Modernista, que inclui 18 livros de poesia, 17 de prosa e 6 em conjunto com outros autores. O poema hoje escolhido não ilustra de modo algum todo o Manuel Bandeira. É apenas parte de uma obra rica e variada. Mas é bonito, quase surrealisticamente bonito...

NOTURNO DA PARADA AMORIM

O violoncelista estava a meio do Concerto de Schumann
Subitamente o coronel ficou transportado e começou a gritar:
- Je vois des anges! Je vois des anges!
E deixou-se escorregar sentado pela escada abaixo.
O telefone tilintou.
Alguém chamava?... Alguém pedia socorro?...

Mas do outro lado não vinha senão o rumor de um pranto desesperado!...
Eram três horas.
Todas as agências postais estavam fechadas.
Dentro da noite a voz do coronel continuava a gritar:
- Je vois des anges! Je vois des anges!

Sem comentários: